Rio Arade
Noutras épocas em que as fontes de energia escasseavam e eram
limitadas apenas à força muscular, ao vento e correntes, os moinhos de maré
tinham uma grande vantagem sobre as outras formas energéticas: a sua constância
e previsibilidade. Existem duas marés diárias o que garantia cerca de 4 horas de
moagem. Eram construídos nos estuários dos rios em terrenos baixos, e em zonas
abrigadas que permitissem represar as águas.
Em Portugal a primeira referência de
moinhos de maré refere-se ao de Castro Marim em 1290. Em 1313 há notícia de um
em Alcântara (Lisboa) e 1386 no Montijo. Em 1403, Nuno Álvares Pereira, que era
proprietário de quase todos os terrenos banhados pelo braço do rio Tejo que
entra no Seixal, mandou construir o moinho de Corroios, o primeiro que se ergueu
naquela área.
Em quase todos os estuários dos rios portugueses se construiram
moinhos, mas a região do Seixal, constituída por terrenos baixos e alagados
pelos esteiros do Tejo, facilitava a sua construção.
Ainda no Algarve, existem
ainda cerca de uma vintena de moinhos ao longo do rio Arade entre Portimão e
Silves, quase todos em mau estado ou reduzidos a ruínas, mas que atestam bem a
importância que estes tinham outrora para a economia local. No Parque Municipal
do Sítio das Fontes perto de Estombar a cerca de três quilometros da foz do rio
Arade, encontra-se o único exemplar, com casa do moleiro, a trabalhar em pleno
produzindo a farinha com que é localmente cozido pão. A recuperação deste moinho
de maré e todo o ambiente em redor deve-se à Câmara Municipal de Lagoa.
Durante a enchente os rodízios estão parados e a comporta da
caldeira abre automáticamente com a força da água que entra.
Quando a maré
começa a vazar a comporta fecha com a força contrária da água. A água da
caldeira mantém-se represada até que a diferença da altura da maré durante a
baixa-mar ponha os rodízios a descoberto. Abrem-se então as portinholas das
condutas aos rodízios que, ligados às mós, começam a moer até ao início da
enchente.
De notar que as horas das marés obrigavam a que se moesse a
qualquer hora do dia ou da noite, pois os moinhos só trabalhavam durante a
vazante. As outras horas eram aproveitadas para limpeza e manutenção do
conjunto. Para um melhor aproveitamento do sistema, algumas caldeiras dos
moinhos eram aproveitadas como viveiros de peixes e de ostras.