sábado, 4 de agosto de 2012

Moinho de maré


Rio Arade

Noutras épocas em que as fontes de energia escasseavam e eram limitadas apenas à força muscular, ao vento e correntes, os moinhos de maré tinham uma grande vantagem sobre as outras formas energéticas: a sua constância e previsibilidade. Existem duas marés diárias o que garantia cerca de 4 horas de moagem. Eram construídos nos estuários dos rios em terrenos baixos, e em zonas abrigadas que permitissem represar as águas.

Em Portugal a primeira referência de moinhos de maré refere-se ao de Castro Marim em 1290. Em 1313 há notícia de um em Alcântara (Lisboa) e 1386 no Montijo. Em 1403, Nuno Álvares Pereira, que era proprietário de quase todos os terrenos banhados pelo braço do rio Tejo que entra no Seixal, mandou construir o moinho de Corroios, o primeiro que se ergueu naquela área. Em quase todos os estuários dos rios portugueses se construiram moinhos, mas a região do Seixal, constituída por terrenos baixos e alagados pelos esteiros do Tejo, facilitava a sua construção.

Ainda no Algarve, existem ainda cerca de uma vintena de moinhos ao longo do rio Arade entre Portimão e Silves, quase todos em mau estado ou reduzidos a ruínas, mas que atestam bem a importância que estes tinham outrora para a economia local. No Parque Municipal do Sítio das Fontes perto de Estombar a cerca de três quilometros da foz do rio Arade, encontra-se o único exemplar, com casa do moleiro, a trabalhar em pleno produzindo a farinha com que é localmente cozido pão. A recuperação deste moinho de maré e todo o ambiente em redor deve-se à Câmara Municipal de Lagoa.

Durante a enchente os rodízios estão parados e a comporta da caldeira abre automáticamente com a força da água que entra.
Quando a maré começa a vazar a comporta fecha com a força contrária da água. A água da caldeira mantém-se represada até que a diferença da altura da maré durante a baixa-mar ponha os rodízios a descoberto. Abrem-se então as portinholas das condutas aos rodízios que, ligados às mós, começam a moer até ao início da enchente.
 
De notar que as horas das marés obrigavam a que se moesse a qualquer hora do dia ou da noite, pois os moinhos só trabalhavam durante a vazante. As outras horas eram aproveitadas para limpeza e manutenção do conjunto. Para um melhor aproveitamento do sistema, algumas caldeiras dos moinhos eram aproveitadas como viveiros de peixes e de ostras.


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