sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Desilusão

Quem és?, perguntou-lhe Francisco Goya y Lucientes.
Sou a desilusão, disse a velha, e domino o mundo, porque todos os sonhos humanos são sonhos breves.

TABUCCHI, António, Os voláteis de Fra Angelico - Sonhos de sonhos - Os três últimos dias de Fernando Pessoa, D. Quixote, Alfragide, 2015, p. 110.

Contar a vida dos outros?



Contar a vida dos outros é interrogar a nossa própria vida. Só o tempo depura. Ficção constrói-se com o que fica do passado. Revive-o. 

FONSECA, Manuel da, O Fogo e as cinzas, 23.ª edição, Alfragide,  Editorial Caminho S.A., 2014, p 14.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

A ajuda dos livros

... os livros servem para ajudar - a quem escreve e a quem lê - a fugir do banal, do corrente e da existência. Os grandes livros, os grandes romances - aqueles onde se inventa e nos socorremos de histórias e personagens que nunca existiram - são livros que desbravam, que mentem, que tornam possível o que não é real, que interrompem a vida como ela é. Numa palavra, que libertam.

TAVARES, Miguel Sousa, Não se encontra o que se procura, Lisboa, 2.ª edição, 2015, p. 265-266.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Memória

A memória é  frágil e o percurso de uma vida é muito breve e acontece tudo tão depressa que não vislumbramos a relação entre acontecimentos, não conseguimos medir a consequência dos actos, acreditamos na ficção do tempo, no presente, no passado, no futuro...

ALLENDE, Isabel, A Casa dos Espíritos, Porto, Porto Editora, 2.a edição, 2013, p. 406.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Aparição da Virgem e o Menino a São Francisco

Este óleo sobre tela do século XVIII, existente no núcleo museológico da Igreja de S. Francisco, de grandes dimensões é a peça escolhida para "postar" hoje.

E o Verão está a chegar ao fim...

 Agosto já se foi. Algo na praia está diferente, o sol mais distante, um outro azul no céu e no mar. Até o ar tem outra cor e outro cheiro. Olha-se e sabe-se: é Setembro, o mar de Setembro, o azul já um pouco desbotado de Setembro (...) O Verão está a chegar ao fim...

ALEGRE, Manuel, Tudo é e não é, Alfragide, Publicações D. Quixote, 2013, pp.185-186.

domingo, 17 de setembro de 2017

Muralha e Torre

Castelo de Montemor-o-Novo

Viver não custa; o que custa é saber viver


Isto dizem os antigos e bem vistas as coisas parece-me que eles não andam fora da razão. 

PIÇARRA, Manuel Madeira, Sala 1 2.º Direito - o tempo e a memória, Évora, Edições Diário do Sul, 1991, p. 217.

Pessoas que não viajam

Só as pessoas que não viajam ganham ódio às classes que o comboio tem. Quem alcança viajar, mesmo só em terceira, vai sempre radiante. Não anda lá a prender-se com essas coisas.

As pessoas que não viajam têm as suas qualidades, são como os chefes de estação: bondosos, diligentes, aplicados. Mas não viajam, pronto. Para que nos querem convencer que viajam?

CESARINY, Mário, As Mãos na água, a cabeça no mar, Assírio & Alvim - Porto Editora, 3.ª edição, Porto, 2015, p.28.

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Em que Idade estamos hoje?


Já tivemos a Idade do Gelo, a Idade da Pedra e a Idade do Ferro, agora estávamos na Idade do Ódio, com focos permanentes de incompreensão dinamizados de raivas e intolerâncias. A família é contestada, a cultura e a arte são fúteis. O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades.
Substituiu-se o "ser" pelo "ter": ser generoso, humildade e honesto, foi substituído pelo ter um bom carro, uma casa de luxo e tecnologia de ponta. 

RUIVO, Alice, Passei, parei, deixei-te um beijo, Porto, Seda Editora, 2014, p. 134.

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Templo embrulhado

Este belo presente já nós conhecemos bem ;)
Que o restauro o torne mais belo e duradouro como tem sido

Alentejo e a fé


E compreende-se que fosse do meio da imensa planura alentejana que nascesse a fé e a esperança num destino nacional do tamanho do mundo. Só daquelas ondas de barro, que se sucedem sem naufrágios e sem abismos, se poderia partir com confiança para as verdadeiras.

TORGA, Miguel, Portugal, Alfragide, 10.ª edição, Leya, 2015, p. 83.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Castigar

Castigar é usurpar um poder providencial. A justiça humana que se apodera dos criminosos não tem por fim vingar a sociedade, mas sim protegê-la do contágio e da infecção da culpa. Todo o crime é uma enfermidade.

QUEIRÓS, Eça de, ORTIGÃO, Ramalho, O Mistério da estrada de Sintra, Lisboa, Biblioteca de Editores Independentes, 2010, p. 272.

Observatórios

As pessoas encontram-se na vida, conversam, discutem, zangam-se, sem se darem conta de que se dirigem uns aos outros de longe, cada qual num observatório erguido num lugar diferente do tempo.

KUNDERA, Milan, A Festa da Insignificância, Alfragide, D. Quixote, 2014, p. 36.


Observatórios

As pessoas encontram-se na vida, conversam, discutem, zangam-se, sem se darem conta de que se dirigem uns aos outros de longe, cada qual num observatório erguido num lugar diferente do tempo.

KUNDERA, Milan, A Festa da Insignificância, Alfragide, D. Quixote, 2014, p. 36.


domingo, 10 de setembro de 2017

Ao largo de Cascais








De que somos feitos?

Nós  não somos apenas feitos da mesma matéria de que são feitos os sonhos. Também somos o mistério que os sonhos são.

ALEGRE, Manuel, Tudo é e não é, Alfragide, Publicações D. Quixote, 2013, p.102.

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Igreja de S.João de Deus



A igreja e cripta de São João de Deus faziam parte integrante do extinto convento da Ordem dos Irmãos Hospitaleiros, construído para cabeça dessa ordem em Portugal, na então vila de Montemor-o-Novo, num local próximo da casa onde terá nascido o Santo.  O templo já estava concluído em 1643, data em que com chancela de Urbano VIII, de 23 de Outubro, foi concebido jubileu de indulgência plenária, a quem o visitasse com fins piedosos e assistenciais.

Arquitectonicamente a igreja é um exemplar notável da arte portuguesa do século XVII, conciliando uma enorme austeridade exterior e funcionalidade no entendimento do espaço, tão característico da arquitectura chã, utilizando a terminologia de Kubler, com a riqueza decorativa do interior, conseguida através da talha barroca e rococó, dos painéis de azulejo, do tipo padrão, polícromos e da pintura mural do tecto, numa ligação tão cara à arte portuguesa.

A fachada, de grande simplicidade apresenta portal de mármore cronografado de 1652, coroado por frontão interrompido e encimado por janelão, que com certeza se deve a campanha de obras do século XVIII. Duas torres rectangulares, cujos remates piramidais são revestidos por azulejos azuis e brancos, ladeiam a fachada.

A igreja apresenta uma só nave e seis capelas laterais, três de cada lado, pouco profundas; grande arco triunfal abre para cruzeiro de acesso á capela - mor. A cobertura da nave é feita por abóbada de berço e o cruzeiro apresenta uma cúpula com lanternim, para reforçar a iluminação da zona do altar-mor.

A cripta de S. João de Deus, local onde a tradição afirma ter nascido este santo, faria parte da sua casa, situada na Rua Verde, encontra-se incorporada nos anexos da igreja e situa-se por baixo da sacristia. A cripta mantém elementos arquitectónicos daquele período, nomeadamente portal em granito, de arco quebrado assente em capitéis fitomórficos, que daria acesso directo à rua.
A igreja, actual matriz de Montemor-o-Novo, e os seus anexos, encontram-se separados do edifício conventual, hoje Biblioteca Municipal e Galeria de Exposições, após as devidas adaptações funcionais.
Ana Maria Borges / DRCA / 31 de Outubro de 2007

Fonte: http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/72321

Amigos

Sim, tenho bons amigos, mas não me caíram do céu: um amigo requer um investimento afectivo extravagante, em tempo, atenção e trabalho, e a reciprocidade é feita de favores, presença, ouvidos, lutos ou sarilhos.

FERRO, Rita, Só se morre uma vez - Diário 2, Alfragide, D. Quixote, 2015, p.105.