quinta-feira, 27 de julho de 2017

Ermida de S. Sebastião




A insignificância

Há já muito tempo, D' Ardelo, que queria falar-lhe de uma coisa. Do valor da insignificância. Na altura, pensava sobretudo nas suas relações com as mulheres. Queria então falar-lhe de Quaquelique. Um grande amigo meu. Não o conhece. Eu sei. Adiante. Actualmente, a insignificância surge-me de um modo completamente diverso do que então, sob uma luz mais forte, mais reveladora. A insignificância, meu amigo, é  a essência da existência. Está connosco sempre e em toda a parte. Está presente mesmo onde ninguém a quer ver: nos horrores, nas lutas sangrentas, nas piores infelicidades. Exige-se-nos muitas vezes coragem para a reconhecer em condições tão dramáticas e para a chamar pelo seu nome. Mas não se trata apenas de a reconhecer, é preciso amá-la, à insignificância, é preciso aprender a amá-la. (...) Respire, D'Ardelo, meu amigo, respire esta insignificância que nos rodeia, ela é a chave da sabedoria, ela é a chave do bom humor...

KUNDERA, Milan, A festa da insignificância, Alfragide, D. Quixote, 3.ª edição, 2014, pp.148-149.

A insignificância

Há já muito tempo, D' Ardelo, que queria falar-lhe de uma coisa. Do valor da insignificância. Na altura, pensava sobretudo nas suas relações com as mulheres. Queria então falar-lhe de Quaquelique. Um grande amigo meu. Não o conhece. Eu sei. Adiante. Actualmente, a insignificância surge-me de um modo completamente diverso do que então, sob uma luz mais forte, mais reveladora. A insignificância, meu amigo, é  a essência da existência. Está connosco sempre e em toda a parte. Está presente mesmo onde ninguém a quer ver: nos horrores, nas lutas sangrentas, nas piores infelicidades. Exige-se-nos muitas vezes coragem para a reconhecer em condições tão dramáticas e para a chamar pelo seu nome. Mas não se trata apenas de a reconhecer, é preciso amá-la, à insignificância, é preciso aprender a amá-la. (...) Respire, D'Ardelo, meu amigo, respire esta insignificância que nos rodeia, ela é a chave da sabedoria, ela é a chave do bom humor...

KUNDERA, Milan, A festa da insignificância, Alfragide, D. Quixote, 3.ª edição, 2014, pp.148-149.

terça-feira, 25 de julho de 2017

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Exposição de Minerais










 


Em 2014, quando visitei o Museu Geológico de Lisboa, apreciei esta exposição temporária de minerais, onde o brilho  destas peças, mesmo em bruto, me deixaram encantada!

domingo, 23 de julho de 2017

Alentejo


A percorrer o Alentejo, nem me fatigo, nem cabeceio de sono, nem me torno hipocondríaco. Cruzo a região de lés a lés, num deslumbramento de revelação.  

TORGA, Miguel, Portugal, Alfragide, 10.ª edição, Leya, 2015, p. 84.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Cada mundo tem um centro

Todos temos um lugar onde a vida se acerta. Cada mundo tem um centro. O meu lugar não é melhor do que o teu, não é mais importante. Os nossos lugares não podem ser comparados porque são demasiados íntimos. Onde existem, só nós os podemos ver. Há muitas camadas de invisível sobre as formas que todos distinguem. Não vale a pena explicarmos o nosso lugar, ninguém vai entendê-lo. As palavras não aguentam o peso dessa verdade, terra fértil que vem do passado mais remoto, nascente que se estende até ao futuro sem morte.

PEIXOTO, José Luís, Galveias, Lisboa, Quetzal, 2014, p. 202.

O que é um sonhador?

O sonhador não é superior ao homem activo porque o sonho seja superior à realidade. A superioridade do sonhador consiste em que sonhar é muito mais prático que viver, e em que o sonhador extrai da vida um prazer muito mais vasto e muito mais variado do que o homem de acção. Em melhores e mais directas palavras, o sonhador é que é o homem de acção.

PESSOA, Fernando, Palavras do Livro do Desassossego, Vila Nova de Famalicão, Edição Libório Manuel Silva, 2013, p. 19.

domingo, 16 de julho de 2017

Como é a alma da gente?


A alma da gente, como sabes, é uma casa assim disposta, não raro com janelas para todos os lados, muita luz e ar puro. Também as há fechadas e escuras, sem janelas ou com poucas e gradeadas, à semelhança de conventos e prisões.

ASSIS, Machado de, Dom Casmurro, Lisboa, Universitária Editora, 1977, p. 97.

Em Aveiro não há só moliceiros!!

Ria de Aveiro

Uma Casa Portuguesa

Aveiro

sábado, 15 de julho de 2017

Qual é a minha idade?


Quando se é criança, cuja infância tempestuosa e turbulenta nos torna os dias longos e difíceis, ficamos com a sensação de que passa muito tempo sobre nós (...) Há momentos em que chego a duvidar da minha própria idade, achando mesmo possível ter calculado mal os anos que já vivi. 

RUIVO, Alice, Passei, parei, deixei-te um beijo, Porto, Seda Editora, 2014, p. 76.

Beleza da vila de Portel









sexta-feira, 14 de julho de 2017

Castelos

Castelo de Monsaraz

Quem viaja pelos caminhos do Alentejo e se dá ao prazer de admirar os inúmeros castelos e fortalezas que nesta planura se acham, não deixa de mostrar contentamento pela mensagem vetusta daquelas pedras seculares.
Esses pedaços do passado afirma-nos o espírito de independência dos antigos e a sua permanente vigília em defesa da terra que os portugueses chamam sua.

PIÇARRA, Manuel Madeira, Sala 1 2.º Direito - o tempo e a memória, Évora, Edições Diário do Sul, 1991, p. 166.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Alentejo de Miguel Torga


Compreender não é procurar no que nos é estranho a nossa projecção ou a projecção dos nossos desejos. É explicar o que se nos opõe, valorizar o que até aí não tinha valor dentro de nós. O diverso, o inesperado, o antagónico é que são a pedra de toque dum acto de entendimento. Ora o Alentejo é esse diverso, esse inesperado, esse antagónico. Tudo nele é novo e bizarro para quem o visita. Os arcos, as silharias, as abóbodas e os coruchéus das suas casas; a açorda de coentro e o gaspacho de alho e vinagre das suas refeições. ... o que tem interesse é precisamente revelar aos olhos, ao paladar e aos ouvidos a novidade dessas descobertas. Mostra-lhe a originalidade de uma vida que se passa ao nosso lado e tem o inesperado de uma aventura. 

TORGA, Miguel, Portugal, Alfragide, 10.ª edição, Leya, 2015, pp. 87-88.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Riscas

Jardim de Montemor-o-Novo

Busto do Dr. Barahona


Dr. Francisco Eduardo de Barahona Fragoso (1843-1905), opulento lavrador alentejano, homem de arte e da cultura e grande benemérito em Évora, pelo que a cidade de Évora promoveu uma subscrição pública para erigir este busto no jardim Diana, da autoria de Simões de Almeida  (Sobrinho) logo após a sua morte.

Fonte:  http://www4.cm-evora.pt/pt/conteudos/Nucleo+de+Documenta%C3%A7%C3%A3o/Destaque+mensal+-+Francisco+Barahona.htm e http://www.pro-evora.org/pt/index.php/comunicados/info-11/29-significado-do-busto-do-dr-barahona

Peixes voadores






Aveiro, 2016

Mar

Praia do Vau

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Rio Tejo

Praia da Trafaria

Restaurante Bon Vivant




 
 
 
 
Em Estrasburgo gostei muito deste restaurante, numa rua perto da Catedral e apesar de estar numa zona turística, é um local tranquilo. Bem decorado (onde nenhum pormenor escapa), bastante confortável, e a simpatia da empregada fica na memória!

Universo do mestre de obras

Pouco conhecia do universo dos mestres-de-obras e a revelação algumas subtilezas, até então insuspeitadas, da língua portuguesa, tê-la-iam deixado muito insegura. "Dez da Manhã" a querer dizer "meio-dia", "amanhã" a querer dizer "para a semana" e "para a semana", "nunca mais", "com certeza" a querer dizer "não", "garanto" a querer dizer "nunca", "compromisso" a querer dizer "rábula" e "palavra de honra"a querer dizer "tá bem abelha, eu bem te lixo".

CARVALHO, Mário, A Arte de morrer longe, Alfragide, Caminho, 2010, p. 39.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Ardenthya maritima

Rio Tejo

O navio abria as águas deixando atrás um fio de lume, a chamada "ardenthya maritima", que os marinheiros acreditam serem as almas dos afogados tentando encontrar o caminho do céu.

AGUALUSA, José Eduardo, Nação crioula, 6.ª edição, Alfragide, D. Quixote, 2008, p.69.

terça-feira, 4 de julho de 2017

Fonte henriquina

ÉVORA

Biblioteca - labirinto



Não sei ao certo quanto tempo passei dentro do labirinto, olhando para encardernações finas e grossas, para os volumes que se seguiam a outros volumes, para os códigos e letras de referência que decoravam as lombadas. Todos aqueles livros me eram desconhecidos, nunca ganhara o hábito de ler. Imaginei o que seria um homem ler todos os volumes da bilbioteca, e surgiu-me a imagem de uma criança a crecser afogada em livros, do princípio ao fim, vivendo a vida de outros em páginas, sabendo tudo e não sabendo nada. 

TORDO, João, O livro dos homens sem luz, Temas e Debates, Lisboa, 2004,  p. 27.