Odemira |
A seus pés desdobra-se o extenso palco do seu destino: a infindável planície a
que dá a vida e movimento. São os rios e os ribeiros secos que faz transbordar
de suor, os negros montados que alegra de vez em quando pintando de de vermelho
cada sobreiro, a sua casinha escarolada e erma como uma mimosa na botoeira, e
as searas que ondulam e reverberam num aceno de abundância. Um mundo livre, sem
muros, que deixou passar todas as invasões e permaneceu inviolado, alheio às
mutações da história e fiel ao esforço que o granjeia. Nenhum limite no espaço
e no tempo. Seja qual for o ponto cardeal que escolha a inquietação, terá
sempre o infinito diante de si, em pousio para qualquer sementeira. E essa
eterna pureza e disponibilidade do solo exalam o ânimo do possuidor.
TORGA, Miguel, Portugal, Alfragide, 10.ª edição, Leya,2015, p. 89.
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