sexta-feira, 10 de junho de 2011

Portugal

Portugal é feito dos que partem
e dos que ficam. Mas estes
numa inveja danada por aqueles terem
sido capazes de partir, imaginam-lhes a vida
a série de triunfos sonhados por eles mesmos
nas horas de descrerem da mesquinhez em que triunfam
todos os dias. E raivosamente
escondem a frustração nos clamores
da injustiça por os outros lá não estarem
(como eles estão), do mesmo passo
que se ocupam afanosamente em suprimi-los
(não vão eles ser tão tolos –
– a ponto de voltarem).

Jorge de Sena



Fotografia do Consulado Português, na cidade do Luxemburgo.

Hoje é dia de Portugal e das Comunidades. O ano passado foi um dia normal de férias que passei no Luxemburgo, onde descobri que além dos funcionários do consulado, os professores de português gozavam o feriado.

Este poema que escolhi para hoje, de Jorge de Sena, é perfeito para descrever a relação entre Portugal e os portugueses que saiem do seu país. Apesar deste poeta ter sido um emigrante forçado devido ao regime salazarista, penso que este poema é ainda muito actual.

Os nossos emigrantes vivem amargurados por estarem longe, agarrando-se muito à ideia do baixo nível de vida, dos assaltos e da violência em Portugal, generalizando o que de pior há no nosso país. Chamo à atenção que isso não quer dizer que não sintam orgulho do seu país e das suas raízes. Aliás, o fado, o futebol e "Fátima", ou seja, o cristianismo são a sua marca, além da qualidade do seu trabalho, claro! Existe apenas um grande saudosismo...

Bibliografia:

QUEIROZ, Flavia Tebaldi Henriques. A poesia de exílio de Jorge de Sena. Rio de Janeiro, 2006. Dissertação (Mestrado em Literatura Portuguesa). Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006, p. 94.

Fonte: http://www.letras.ufrj.br/posverna/mestrado/QueirozFTH.pdf

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