A Cadeia do Aljube e, em especial, os seus curros, provocaram inúmeros protestos nacionaos e internacionais. Assim, foi a própria direcção da PIDE que, a 22 de Junho de 1964, apresentou ao ministro do Interior uma proposta de encerramento do Aljube, por ter deficientes condições de segurança, salubridade e higiene, por possuir um número limitado de celas para isolamento, necessárias à investigação e, também, por a Oposição fazer um aproveitamento dos chamados «curros» para denegrir o país. O Aljube, no entanto, só seria encerrado no Verão do ano seguinte.
Com o seu encerramento, no Verão de 1965, todo o andar dos curros foi destruído, numa manobra de ocultação que incluíu a retirada do gradeamento das janelas desse piso. Em 1969/70, o Aljube voltou a ter obras, já sob jurisdição do Ministério da Justiça, “para melhorar as condições de acomodação dos presos do Limoeiro e permitir a sua maior separação em grupos”. Foram então remodelados todos os pisos, construído um novo parlatório, um refeitório e celas renovadas. Esta nova prisão no Aljube, que teria capacidade para albergar 80 a 100 presos, deveria funcionar até que fosse construída uma nova cadeia comarcã nos terrenos pertencentes ao Ministério da Justiça e afectos à cadeia de Monsanto.
No dia 14 de Abril de 2011, foi inaugurada no edifício do Aljube uma exposição promovida pela Fundação Mário Soares, pelo Instituto de História Contemporânea da FCSH da Universidade Nova de Lisboa e pelo NAM - Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! Essa exposição documental, com recurso a meios audiovisuais, pretende dar a conhecer, devidamente contextualizados, aspectos essenciais da repressão durante a ditadura (1948-1974), ao mesmo tempo que mostra os vestígios arqueológicos encontrados no Aljube. Com esse objectivo inclui a reconstituição do Parlatório e dos curros, dando voz às vítimas que passaram pelas cadeias da ditadura, “para honrar a sua memória e o seu sacrifício”. É sobre esta iniciativa que me vou dedicar neste blogue nos próximos dias, de forma a mostrar a todos o Portugal antes do 25 de Abril.
Um dos testemunhos de quem viveu nas pequenas celas dos curros é de Carlos Brito - Sobre os curros: «as famosas gavetas ou “catacumbas”», algumas das quais com «o comprimento de uma tarimba» e cuja «largura era mais ou menos igual e não superior a uma cama de um corpo (da tarimba que era estreita sobravam uns 15 centímetros)». O «curro» era fechado «por duas portas, uma gradeada» e «outra de madeira, que estava normalmente fechada, apenas com um pequeno postigo para o guarda espreitar». Como este «estava muitas vezes fechado para o presos não poderem olhar para fora», «as celas estavam quase todo o dia mergulhadas numa semi-obscuridade».
Ou de Francisco Martins Rodrigues - A minha gaveta, como era chamada nesse tempo, tinha 1,20 por 3 metros. Eu já sabia que nem todas eram iguais de comprimento; esta devia ser das menores. Ainda para mais, um gradão dentro dela, separando-me da porta, roubava uma parte do pouco espaço disponível. Havia um bailique (um estrado de madeira, com uma enxerga e um travesseiro de palha), onde pousei as mantas. Às apalpadelas, percebi que o bailique tinha dobradiças e se podia levantar, encostado à parede. Ficava assim livre o meu espaço para andar: quatro passos para um lado, encostar a casa ao ferro frio do gradão ferrugento, meia volta, quatro passos até à parede, meia volta…
Também o padre angolano Joaquim da Rocha Pinto de Andrade descreveu as condições do Aljube, onde esteve preso, pela terceira vez. Contou ter sido «lançado numa enxovia estreitíssima, de um metro de largura por dois de comprimento, onde a luz e o ar entravam por um postigo de 15 x 20 cm., filtrados através de duas férreas portas, postigo, aliás permanentemente fechado». A «tarimba que lhe servia de cama era apenas provida de um enxergão, duro como pedra e cheio de nós que lhe faziam doer o corpo», tão «sebento que para evitar o seu contacto nojento, ele tinha de dormir agachado sobre uma toalha de rosto», pois era proibido usar lençóis. «Sentado na tarimba, os joelhos roçavam a parede», sem haver o mais pequeno espaço para se mover, numa penumbra que lhe arruinara os olhos. Quanto às necessidades fisiológicas, todas se passavam com a porta da retrete escancarada, sob o olhar vigilante do carcereiro.
Nos anos quarenta, uma das piores coisas do Aljube era a alimentação, fornecida pela cadeia do Limoeiro. Nesse período, segundo um horário bizarro, o almoço e o jantar eram, respectivamente, dados às 11 e às 18 horas e, por volta das 21 horas, os presos recebiam «um púcaro de café, acompanhado por casqueiro, que devia durar todo o dia seguinte, porque aquele era o único pão que distribuíam diariamente!» Uma «água suja, com bocados de pão e uns troços de couve a boiarem nela, era, normalmente, o que servia como sopa», o peixe cheirava «a podre» e «o chamado café da noite é uma zurrapa feita de castanhas ou coisa parecida»
Fonte: Wikipédia
Sem comentários:
Enviar um comentário