É noite de S. João
repete três vezes quero
os dedos da tua mão
E o meu amigo afogado
em vinho falsificado!
Não viemos para dançar?
Onde está o violão?
S. João João João
S. João que nos quer bem
leva a tristeza contigo
leva a saudade também (...)
S. João João João
S. João de marinheiro
com dinheiro - sem tabaco
com tabaco - sem dinheiro
Ruth dos cabelos de oiro
Maria da Conceição
vem falar ao meu amigo
muda-lhe a pena em paixão!
E o meu amigo afogado
pálido loiro virado
pró lado da escuridão! (...)
Daqui pra casa é um talo
de casa à cama é um lance
São João João João
eu quero um submarino
que pareça um avião
e ande como um menino
As asas - até ao chão -
os ombros - até ao cimo -
Olha a noite como corre
como passa tão depressa
amigos a noite morre
quando é que a manhã começa?
Quano é que a manhã começa
que é para a gente começar
dos pés até à cabeça
a mexer a respirar?
S. João João João
das putas bravas do rio
ajeita-me no calção
esse mastro de navio (...)
S. João João João
S. João de carniceiro
eu sou como o gavião
quem me queira pôr a mão
há-de vir primeiro (...)
S. João João João
eu não quero exagerar
mas achas que na prisão
se vive mais devagar? (...)
S. João João João
de corpete e de penante
fazias um figurão
fardadinho de almirante (...)
S. João João João
da chegada e da partida
vê lá se o meu gavião
ainda vai na subida (...)
Oh que festa tão contente
que povo tão ensinado!
Mas que rosto repelente
nos espreita do telhado
que é tudo dançar por fora
do que não dança cá dentro
ai João vamos embora
tu para o mar eu mais para o centro
S. João João João
eu não quero presumir
mas achas que de avião
é mais de se conseguir?
CESARINY, Mário,
Manual de Prestidigitação, Assírio e Alvim, Lisboa, 1980, p. p. 39-45.