Crescemos com pouca
sustentação, houve quem ganhasse demais e quem considerasse que o estatuto
ganho no universo da política era para a vida inteira. Acumulou-se muita
vaidade sobre pés de barro e não se percebeu que o seria dificilmente
sustentável. As pessoas foram-se cansando da política e dos políticos, não
imaginando uma alternativa que as fizesse aumentar o grau de participação e
de responsabilidade. O que parecia ser seguro e durável foi-se degradando e
perdendo. E não foram apenas estes últimos quatro anos. Foi uma história longa
e complexa que a fase mais recente agravou e aprofundou. Acumularam-se títulos
e competências, trabalhou-se muito para a notoriedade da câmara de televisão,
mas o país interior, o Portugal rural, foi-se deteriorando e extinguindo. Muita
gente emigrou e, entre os que não quiseram emigrar, ficou muita gente degredada
nos espaços interiores do ressentimento e da intriga, um exército amargurado e
tenso. Todos esperavam um pouco mais e não o tiveram.
LETRIA, José Jorge, Não se engana o coração – Retrato de uma vida e de Portugal com outra música, Lisboa, Clube do Autor, 2016P 188-189
LETRIA, José Jorge, Não se engana o coração – Retrato de uma vida e de Portugal com outra música, Lisboa, Clube do Autor, 2016P 188-189
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