Há nos campos
horizontes e recantos onde ainda é permitido sonhar. Há estradas reais que nos
levam na direcção doutros concelhos. E aldeias cercadas de amieiros, silvas,
piteiras, cactos selvagens, correndo no descampado à procura das sombras
benfazejas dos trigueirais e dos cabeços. Há o silêncio das horas brancas das
solidões, o coro das aves, a grandeza imperturbável da Natureza! Há as estrelas
e a Lua como claridades seculares da vida. Há o júbilo divertido de nos
sentirmos com o papinho cheio, arrastados pelos mistérios exigentes da poesia:
as ervas que nos saltam ao caminho, as flores que perfumam os espaços, os
homens que cantam para si, senhor das cidades, do alto de bruscas platibandas
ou no côncavo dos pedregulhos neolíticos, em versos de ceguinhos e contrabandistas,
de patrões e criados, versos de amar e sofrer, que esta é a terra do nosso sangue!
SILVA, Antunes
da, Alentejo é sangue, Porto, 3.a edição, Livros Horizonte, 1984, p 132.
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