domingo, 31 de dezembro de 2023

Embora eu seja...

Embora eu seja um velho errante, e mal me entenda comigo mesmo, levo a densa consciência do meu poder. Cheguei à clareira da verdade maior, a que existe porque a adivinho, quando me afoito a fechar os livros.  Se perguntarem por mim, já passei, e se quiserem saber até onde, nunca lá haverão de me encontrar. Sou da névoa  como dos ossos cansados,  da chuva como das mãos que tremem, e da brisa como da frouxa respiração. 

CLÁUDIO, Mário, Embora eu seja um velho errante, Alfragide, D. Quixote, 2021, p. 133.

Tudo é foi

Fecho os olhos por instantes.

Abro os olhos novamente.

Neste abrir e fechar de olhos

já todo o mundo é diferente.


GEDEÃO, António, Poemas, Lisboa,  Palavrão Associação Cultural, 2015, p. 44.

a Morte

Consola-me este horror, esta tristeza,

Porque a meus olhos se afigura a Morte

No silêncio total da Natureza.


BOCAGE - sonetos completos de Bocage, Lisboa, Círculo de Leitores, 1983, p. 8.

sábado, 30 de dezembro de 2023

2023 a acabar

Mais um ano está a chegar ao fim e, mais uma vez, tantos sonhos que tenho para cumprir não consegui. A vida vai-se passando e os dias vão sendo frustrantes ao pensar nestes falhanço por não conseguir descobrir o amor, um trabalho adequado às minhas habilitações ou coisas simples como sair com amigos e estar com família... disfarço estes pensamentos com o velho método de sempre -  fugindo de mim mesma, através dos meus passeios e pequenas explorações pelo país.

Este ano a família cresceu, tenho uma Margarida rechonchuda com 4 meses para me animar.


Todavia ainda o que me custou mais neste ano foram os 364 dias de oportunidades perdidas, a desilusão de uma aventura transformar-se em deserto dói muito e não consigo compreender porquê, tanto silêncio... só desencontros não é justificação-  acho que não ofendi o meu orientador por isso só me resta julgar que me chumbaram o acesso ao nirvana.

Por isso o próximo projecto é tentar esquecer o que aprendi, voltar a ser a menina certinha de sempre - que tristeza-  e continuar à procura do verdadeiro amor para me dar o alimento que desejo, libertando-me do diabinho querido que aparentemente deseja ser esquecido. Vai ser difícil, reconheço mas tenho de evitar mutilar o meu coração...

Ele que me excita e me acalma, ignora-me e eu tenho de fazer o mesmo... 

Este ano a minha saúde exigiu uma viragem completa, na medida em que, estive um mês de baixa devido a uma operação surpresa e antes de ir para o hospital pedi-lhe um beijo especial, e nada... (lá volto eu ao mesmo de sempre) todavia, este sentimento forte fez-me pensar o que vou fazer da vida, o que fazer quando gostas de alguém que te ajuda a acalmar mas que é como tu - que adora a sua independência- ai de mim, que estando acamada e prestes a entrar no bloco só me lembrava do seu olhar, como forma de relaxar antes de ir à faca - o que fez pensar em sofrimento e morte...

Resumindo, o pior deste ano, não estar com a minha melhor amiga, perder um mês por motivos de saúde, descobrir que atração não te dá solução.

Mentira, estupidez e cinismo são o dominante  no meu serviço e lá rezo para sobreviver a um clima horrível num sítio onde só o edifício é belo.

Mudar de trabalho não foi um objectivo cumprido a acrescentar ao facto de não ser feliz ao amor não tornou o ano tão positivo como desejara...  mas pronto vai-se vivendo como dizem os velhos lol 

O ano de 2022 é que foi mesmo bom,  2023 foi mais continuação na afirmação pessoal mas sem tanta energia e reduzida animação.

Jóias da coroa portuguesa









 Museu das Jóias da Coroa

As ilusões semelham-se a um colar

As ilusões semelham-se a um colar

De pérolas alvísssimas, de espuma.

Se o fio que as segura se quebrar,

Caem no chã, dispersas, uma a uma.


Caem no chão, dispersas, uma a uma,

Se o fio que as segura se quebrar;

Mas entre tantas sempre fica alguma,

Sempre alguma suspensas há-de ficar 


Augusto Gil - Obra Poética, 1.º vol., Lisboa, Círculo de Leitores, 1983, p. 11.

domingo, 24 de dezembro de 2023