terça-feira, 30 de julho de 2024

Prece no Mediterrâneo

Em vez de peixes, Senhor,

dai-nos a paz,

um mar que seja de ondas inocentes,

e, chegados à areia,

gente que veja com coração de ver,

vozes que nos aceitam


AMARAL, Ana Luísa, Ágora, Porto Assírio e Alvim, 2019, p. 137.

domingo, 28 de julho de 2024

Comboio da ponte


 Ponte 25 de Abril

Trafaria e o Tejo








 

Vestígios de ossadas







 Rua Bernardo Matos, Évora 

Procuro por ti

Até nos meus sonhos procuro por ti

Anseio por um simples abraço teu

Para reforçar as minhas forças.

Não te encontro...


Nem coragem para pedir um olhar teu

Este feitio de não incomodar ninguém acabará comigo

Ser cuidadora é  esquecer que existo

Viver em função de quem ama

Nunca mais te vou encontrar?...


X p t O

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Trânsito a toda a hora


 Ponte 25 de Abril - Pragal

A mesa da minha avó


Há umas semanas fui comer uma francesinha ao Guarda-sol, sozinho, à mesa da minha avó. Entendi bem que estar ali, na cidade, é já por definição estar acompanhado. Não admira que só por isso tenha a impressão da conversa. Devia haver cadeiras que, vazias dos mortos, ainda assim não permitissem os vivos de sentar. Por estarem, ao menos no nosso afecto, sempre ocupadas.

MÃE, Valter Hugo, Contra mim, Porto, Porto Editora, 2020 p. 63.


terça-feira, 23 de julho de 2024

Andorinhas lindas dão-me esperança que melhores dias virão





 Évora 

Energia urbana




Escultura de Josep Boffil, 2003

Museu de Almada



 

No dia dos teus anos

Tu hoje fazes anos

E não consigo dar te o presente

Não sei onde anda o ausente

em mim omnipresente 

marcada para sempre

Imaculada sente-se 

Pensamento prende


És o meu sonho bom

Existes e exulto

Dás a melhor prenda de sempre 

Mas nunca a cconseguirei pagar 

Em todos estes dias

A meia nunca será nada 

É impossível combater a concorrência


Xpto 

segunda-feira, 22 de julho de 2024

Sei que me podes amar / basta tentares

COHEN, Leonard, A Chama, Lisboa, Relógio d´Água, p. 224. 

Parabéns amigo

Parabéns amigo

Por seres o escolhido 

Por passar os dias a sonhar contigo

Por ambicionar gritar por ti

Aprender o pino

Mas cada vez mais perco o tino...


Parabéns amigo 

Por seres o caminho

Por passar os dias a procurar o colorido 

Por ambicionar gozar em ti

Aprender a tocar o sino

Mas cada vez mais entristeço....


Parabéns amigo

Por seres o meu ninfo

Por passar os dias a tentar perceber esta amizade 

Por ambicionar ter experiência para ti

Aprender a ser mulher

Mas cada vez mais o meu ego se angustia...


Parabéns amigo

Por seres o meu encantamento

Por teres conquistado a original

Por não saber o que fazer contigo 

Aprender a vida na poesia 

Mas cada vez mais pergunto porque  este tempo passa...


Parabéns amigo

Nunca mais consigo gostar de mais ninguém

Xpto


Tejo visto do Cais do Ginjal


 

O teu rosto

De mim conservo as mãos erguidas em redor do teu rosto,

e do teu rosto a praia extensa que o vento alisou para sempre.


Não há pegadas senão o ruído das ondas.


SENA, Jorge de, Coroa da Terra, Assóirio e Alvim, 2021, p. 35.

Rei dos paus

É pau, e rei dos paus, não marmeleiro,

Bem que duas gamboas lhe abrigo;

Dá leite, sem ser árvore de figo,

Da glande o fruto tem, sem ser sobreiro;


Verga, e não quebra, como o zambujeiro;

Oco, qual sabugueiro tem o umbigo;

Brando às vezes, qual vime, está consigo;

Outras vezes mais rijo que um pinheiro;


À roda da raiz produz carqueja;

Todo o resto do tronco é calvo e nu;

Nem cedro, nem pau-santo mais negreja!


Para carvalho ser falta-lhe um u;

Adivinhem agora que pau seja,

E quem adivinhar meta-o no cu.


BOCAGE - sonetos completos de Bocage, Lisboa, Círculo de Leitores, 1983, p. 199.

sábado, 20 de julho de 2024

Ideologia

PÉ uma maçada quando a ideologia se agiganta, extravasa e condiciona o que devia ser o principal métier do historiador, isto é, a fria análise de factos e argumentos.

MARQUES, João Pedro, Combates pela verdade - Portugal e os escravos, Lisboa, Guerra e Paz, 2020, p.144

Ser sensato

O homem sensato ou inteligente  tem possibilidade de sublimar e vencer os seus preconceitos, o estúpido tornar-se-á, irremediávelmente, seu escravo.  


TABORI, Paul, História natural da estupidez, Silveira, Book Builders, 2017, p. 128.

Avenida Lino de Carvalho

 



Évora 

quinta-feira, 18 de julho de 2024

quarta-feira, 17 de julho de 2024

Pensar para quê?


PENSAR, PRA QUÊ? QUE PENSEM OUTROS. RARO
O pássaro que faz do céu seu ramo.
Eu quero pensar muito é nos que eu amo
Antes que a morte aponte a mim seu faro.
Pensar: que desperdício, que inocência!
Pensar que por pensar virá Atena...
Pensar é sonho, ordenha de éter, pena
Sovada no badminton da ciência. 
Que deixarei de mim, um pensamento?
E este meu papel qual tumba fria
Parece querer beber a elegia,
Treinar aqui, qual pedra, o meu lamento...
Ó ópio, Ó óleo, Ó ócio deste ofício!
Pensar que toda a arte é artifício!

 JONAS, Daniel, Nó - sonetos, Porto, Assírio e Alvim, 2014, p. 27.

Qual a melhor definição?

definição de poeta

observador de gatos


definição de gato

um pássaro

no coração 


PIRES, Carlos Lopes, Se houver domingo à tarde; Leiria, Hora de Ler, 2021, p. 132.