segunda-feira, 22 de julho de 2024

Rei dos paus

É pau, e rei dos paus, não marmeleiro,

Bem que duas gamboas lhe abrigo;

Dá leite, sem ser árvore de figo,

Da glande o fruto tem, sem ser sobreiro;


Verga, e não quebra, como o zambujeiro;

Oco, qual sabugueiro tem o umbigo;

Brando às vezes, qual vime, está consigo;

Outras vezes mais rijo que um pinheiro;


À roda da raiz produz carqueja;

Todo o resto do tronco é calvo e nu;

Nem cedro, nem pau-santo mais negreja!


Para carvalho ser falta-lhe um u;

Adivinhem agora que pau seja,

E quem adivinhar meta-o no cu.


BOCAGE - sonetos completos de Bocage, Lisboa, Círculo de Leitores, 1983, p. 199.

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