quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Ecopista remendada




Um ano a remendar já que estamos na terra do vagar... só não há incompetência para ir ao bolso dos contribuintes 

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Não é...


Não é pelas coisas que alcançamos 
Não é pelo nosso aspecto
Nem pelo quanto trabalhamos 
Que a nossa alma
Vai sentir alívio 
Mesmo que conseguíssemos 
Fazer todo o dinheiro do mundo
Iríamos sempre sentir-nos vazios de alguma coisa
As nossas almas anseiam por comunhão 
O meu e o teu ser mais profundo estão sedentos um do outro
Precisamos de estar ligados
Para nos sentirmos vivos


KAUR, Rupi, Corpo casa, Alfragide, Lua de Papel, 2021, p. 109.


terça-feira, 15 de outubro de 2024

Pensava que podia ser feliz


Pensava que podia ser feliz, ao invés de viver sozinha com apenas bocados de amor.

MÃE, Valter Hugo, Contra mim, Porto, Porto Editora, 2020 p. 256.


segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Será este o meu destino: / ser tão atraente e indisponível?

COHEN, Leonard, A Chama, Lisboa, Relógio d´Água, p. 254.

Farol lá longe para não perder o rumo


 Praia dos Careanos, Portimão 

Discreta


DISCRETA FLOR EM BRANCO PRADO, Ó BELA 
Figura não caiada em lácteo quadro!
És tu a albina em albino adro,
Por entre estrelas brancas amarela.
E o prado, porque foi ele crescer-te
E aí plantar-te ó astro, rente sol,
Pequena luz na alvura do lençol 
Que os dedos do olhar querem colher-te?
No tédio da beleza, da cidade,
Sobressai uma flor e imensa arde
Como um farol em ondas de erva à tarde,
Maravilha fatal da nossa idade.
Num mar de margaridas uma ilha.
Ah, quanto mais se esconde ela mais brilha!

 JONAS, Daniel, - sonetos, Porto, Assírio e Alvim,p. 55.


A felicidade envelheceu


A felicidade envelheceu
À minha espera 
E eu envelheci
À procura da felicidade 
Em lugares onde ela não existia


KAUR, Rupi, Corpo casa, Alfragide, Lua de Papel, 2021, p. 108.


Sombra sedutora


 Portimão 

Hortenses são lindas



 Monchique, 2022

E quero e quero

Ando, a vida inteira, sobretudo à caça de satisfação para ima angústia constante que se prende a tudo, a ter e não ter, sentir que nunca nada está completo, que nunca tempo algum é suficiente. Falta-me tempo, quero mais, e quero gente e quero corresponder, pertencer genuinamente a cada lugar e melhorar os lugares e melhorar tudo, e ser um pouco feliz no meio de tanta coisa, tanta coisa que nem entendo, não chego a conhecer, não sou sequer inteligente o bastante para as aventuras todas. E digo angústia porque fica no ar um lado mais existencial e filosófico do que a constatação sempre tão violenta da tristeza, alguma tristeza e procurar saída.

 MÃE, Valter Hugo, Contra mim, Porto, Porto Editora, 2020 pp. 84-85.



Solteira ficaste

Solteira ficaste,

Quase morta em vida,

Como a  flor na haste

Por ninguém colhida!


Teus olhos morenos

De tão longo olhar,

Quem os viu pequenos

Não os viu chorar.


VIOLETA MULHER de PEDRO HOMEM DE MELLO in PEDREIRA, Maria do Rosário, DUARTE, Aldina, Esse fado vaidoso, Lisboa, Quetzal, 2022, p.129.






domingo, 13 de outubro de 2024

O filho mais novo

O filho mais novo pode resultar num brinquedo de pentear, um enfeite de pensamentos ocasionais, dotado de algum vocabulário para responder a comandos de organização e afectivos. Enfeitado com um sorriso, eu ficava a mando. Ao contrário de se abrir o caminho pelos irmãos mais velhos, em muitas ocasiões somos empecilhados, e são mascaradas todas as verdades para que conservemos a encantadora ingenuidade que nos faz pensar que o mundo é belo. Era mais apetecível à economia familiar que eu persistisse aquela criatura doméstica, feito de abracinhos e temor, muita paciência e voz baixa, com meus desenhos e caderninhos, a gastar o tempo em toda a lentidão possível. Eu não era necessário para adulto. Teria de ser a criança mais longeva de todas.

MÃE, Valter Hugo, Contra mim, Porto, Porto Editora, 2020 p. 109.





sábado, 12 de outubro de 2024

Passamos como o rio

Molhe de Portimão 



Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente 
E sem desassossegos grandes.


Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
(...)

Ricardo Reis 
PESSOA, Fernando, Tenho medo de partir - um livro de viagens, Lisboa, Guerra e Paz, 2018, p. 119.

Relógio de sol


 Fundação Eugénio de Almeida - Évora 

As árvores


As árvores caem desmembradas,
Num estrondo surdo,
Delimitadas por uma aparente estática de membros,
E dispersam-se as folhas sobre janelas 
De viúvas encostadas às cortinas
E as varandas ficam cobertas por uma serradura
De tons vagamente dourados


TAVARES, Paulo, Design & Dasein, Órbitas, Porto, Assírio e Alvim, 2023, p. 23.

sábado, 5 de outubro de 2024

Idolatria dos heróis


E a estupidez da idolatria dos heróis? É a base de todos os governos totalitários. Evidentemente que nenhuma nação, nem mesmo a Alemanha, aprecia a tirania e a opressão,  mas, quando a estupidez do instinto de rebanho se estende à política, a loucura do masoquismo nacional tinha-se geral e, então,  aparecem os Hitlers, os Mussolini e os Estalines.

 TABORI, Paul, História natural da estupidez, Silveira, Book Builders, 2017, pp. 31-32.

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Retiro-me?


Num mundo que considera
Que o meu corpo não é meu
Dar-me prazer
É um ato de auto- preservação 
Quando me sinto desligada 
Conecto-me com o meu centro
Toque a toque
Retiro-me para dentro de mim
No orgasmo 


KAUR, Rupi, Corpo casa, Alfragide, Lua de Papel, 2021, p. 76.