Não se conhece a data da fundação da Misericórdia de Evoramonte e o documento mais antigo existente no seu arquivo é uma cópia do Compromisso da Misericórdia de Lisboa de 15161. É possível que a confraria estivesse em funcionamento já em 1527, pois remonta, a este ano, um documento entretanto desaparecido, mas que comprovava as actividades da misericórdia, pelo menos, nesse tempo2, sendo regida, muito possivelmente, pelo Compromisso de 15163.
A igreja, certamente erguida entre o final do século XV e o início do XVI, denota características gótico-manuelinas, mas nada indica que tenha sido construída especificamente para a Misericórdia4. Trata-se de um templo de dimensões reduzidas, com capela-mor e nave, de dois tramos, cobertas por abóbadas de nervuras de aresta, sem chave e apoiadas em mísulas de secção piriforme. Os panos murários são revestidos por painéis de azulejo e a abóbada da capela-mor também. Do lado direito desenvolvem-se as dependências anexas, entre as quais o hospital.
Sobre a instituição e o seu património pouco mais se conhece. A pedra de ara do altar, com inscrição gótica, exibe a data de 1575 que não se sabe a que corresponde. Em 1712 o Padre António Carvalho da Costa, na Corografia Portuguesa5 não refere a existência da Misericórdia, mas em 1739 esta beneficiava de estatutos próprios, pelos quais se passou a reger, concedidos em alvará por D. João V, de 16 de Maio.
De acordo com as Memórias Paroquiais de 1758, a igreja da Misericórdia era a única, para além da matriz, que se encontrava no interior das muralhas, exibindo uma imagem de Nossa Senhora da Visitação muito louvada pelo pároco, que ainda refere os rendimentos anuais da confraria – quarenta a cinquenta mil reis. Interessante é o comentário sobre a pureza de sangue dos irmãos, uma consequência já do compromisso joanino, que estipulava regras muito rígidas sobre a admissão dos irmãos: “nam entra nesta irmandade irmam que tenha defeito no sangue e pera serem irmaos se lhe tiram inquirisoens, rigurozamente”.
De acordo com Túlio Espanca, os azulejos que revestem os panos murários da nave e capela-mor e a abóbada desta última, teriam sido executados pela oficina de Policarpo de Oliveira Bernardes em meados do século XVIII, ideia muito pouco credível sob todos os pontos de vista, uma vez que os painéis são muito diferentes dos trabalhos assinados por aquele pintor e as cercaduras denunciam um rococó muito afastado dos modelos e vocabulário próprio do referido mestre.
Sem comentários:
Enviar um comentário