sábado, 6 de agosto de 2011

Temporada


Um pássaro sem rosto, um pelicano,
caminhava sobre o mar, esfregando
seu frágil corpo de ave. A sua carne.
Esfregando seu corpo, por vaidade.
E năo o viam, ou o sabiam como,
ou de onde seria o cair de sua tarde.
Caminhava sobre o mar, sem rosto.
Arrancando carne do peito, posto
fosse esse o seu dever. Seu sangue.
Arrancando carne de seu peito,
(năo sendo mais que obrigaçăo
ou algo que qualquer pelicano
teria feito) voltava de seu mar.
Para sempre a sua função
Nunca nada mais que outro
năo teria feito, năo. Sem rosto
caminhava sobre a margem.
Nunca nenhum horizonte,
bem que o mar fosse todos
E para além de nenhum rosto,
No vermelho da tarde, do sangue, da carne,
Arrancara alguma maquilhagem.
Logo lavada pelo mar, sua funçăo. Por sua
margem. Por sua própria impossibilidade.

Eduardo Lacerda


Fonte: http://www.kplus.com.br/materia.asp?co=689&rv=Cigarra

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