Assim, é sobretudo de noite que a cidade se me revela. Nas ruas ermas, os candeeiros meditam sobre velhos espectros, velam o rasto do mundo desaparecido, essa ausência que se sente em tudo o que foi tocado pelo Homem e lhe retém o calor da vida. Mas porque esta cidade não confraterniza connosco, porque a habitamos com quem passa, como provisoriamente se habita uma estalagem, porque somos nela intrusos, eu reconheço-lhe a verdade face não à luz da evidência divina, mas a uma obscura luz de eternidade.
Vértice – Revista de Cultura e Arte, Setembro de 1958, vol. XVIII, nº. 180, Coimbra, p. 458.
Sem comentários:
Enviar um comentário