terça-feira, 19 de junho de 2012

ÉVORA segundo VERGILIO FERREIRA




Évora é uma cidade branca como uma ermida. Convergem para ela os caminhos da planície como o resto da esperança dos Homens. E como a uma ermida, o que a habita é o silêncio dos séculos, do descampado em redor: conheço dos seus espectros, a vertigem das eras, a noite medieva mora ainda nas ruas que se escondem pelos cantos, nas pedras cor do tempo ouço um atropelo de vozes seculares. Vozes de populaça, gritos de condenados, ecos de reis, senhores , estrétipo de guerras, ódios e sonhos, sob a imobilidade dos mesmos astros. Como um cofre do tempo irrealizado e absoluto, a cidade igonra a exactidão do presente, conhece apenas o alarme da memória.


Vértice – Revista de Cultura e Arte, Setembro de 1958, vol. XVIII, nº. 180, Coimbra, p. 457

Sem comentários: