O Santo Mártir de Évora, denominado de de Mâncio ou Manços foi condenado a uma morte lenta, provocada por prolongados sofrimentos e espancamento, sem acto de martírio.
Nas crónicas medievais é a autoridade romana que o condena oficialmente, com a concordância e participação dos Judeus. É o Livro e Legenda, de 1513, que inicia uma ascendente condição social do santo, onde este já figura entre os discípulos de Cristo. De humilde servo de uma família judia, Manços passa a ser um líder apostólico. Em André de Resende, os judeus afastam-se e são apenas os romanos que o martirizam. O santo aparece já com a condição de bispo, talvez em sentido figurado por ser o evangelizador da cidade de Évora, como símbolo de primeiro líder cristão numa cidade onde o domínio judeu proliferava.
Após a invasão muçulmana de Évora por Abderraman II, o destino do corpo de São Manços é Villa Nueva, filial da abadia de Sahagún. Foi no século XI que um descendente dos Teles de Menezes de Portugal funda em Villa Nueva, na diocese de Palência, um mosteiro onde São Manços era patrono.
Nos calendários moçárabes a sua festa comemora-se a 21 de Maio, e o topónimo Évora encontra-se mencionado em todos os textos.
Existem ainda lendas populares contadas oralmente pela população de São Manços. Uma delas encontra-se associada a um vestígio arqueológico pétreo, uma rocha marcada pelos rodados de um carroção de bois e pelas marcas das patas dos animais. Estas marcas surgiram quando foi erguida a basílica ao santo e a carroça que transportava as pedras para a edificação sofreu um acidente, em que os bois se exaltaram, causando a sua queda.
Jorge Cardoso, autor da mais importante recolha de hagiografias lusitanas do século XVII, com inúmeras edições, refere-se a São Manços como evangelizador do Alentejo, Estremadura e Galiza, onde desfez as "trevas da gentilidade". Segundo o mesmo autor, a herdade onde se guardavam as relíquias pertenceria ao Conde Julião e D. Júlia, responsáveis pela construção da sumptuosa basílica "de fabrica e arquitectura celeberrima", na época do rei Wamba.
A descrição do sítio de culto, peregrinação e veneração, lembra os anteriores túmulos romanos e indicia, de novo, a presença romana, já comprovada pela origem do santo e pelos limites geográficos da Lusitânia.
O passado hispano-visigodo também se encontra presente na profissão de fé trinitária, tema dos concílios XVI e XVII de Toledo, estando estes no momento da redacção da Passio em recordação, situando-a no fim do século VII. Também a referência ao território "Elborense", indica a Elbora visigoda. As crónicas revelam também uma profunda relação Évora – Mérida, demonstrando a importância destas duas cidades na época.
O relato do martírio pode revelar um facto real, mas não podemos negligenciar no discurso o objectivo de marcar o anti-judaísmo presente nos Concílios de Toledo. A maioria dos mártires hispânicos romanos não possuem documentação suficiente para descrever a realidade, mas admite-se o seu martírio na Grande Perseguição nos inícios do ano IV.
São Manços encontra-se ainda relacionado com São Torpes, o mártir que segundo a lenda foi sepultado em Sines com a ajuda de Santa Celerina e São Manços, que lhe constroem um templo para abrigo das suas relíquias. Esse seria o primeiro templo cristão construído de raiz na Europa, reforçando a missão evangelizadora dos mártires.A intensidade do culto a São Manços originou a propagação do seu nome numa vasta área geográfica. As raízes encontram-se já no século XIII, porém parece ter origem num passado mais longínquo, com origem num centro de culto em honra do mártir congregando-se a devoção dos fiéis em torno de um túmulo ou relíquias. O templo pode ter surgido após a reconquista cristã ou mesmo antes da ocupação muçulmana. Para comprovar essa hipótese, segundo Baptista, seria necessário encontrar referências a uma igreja ou ermida edificada após a reconquista.
Este é o santo mártir que deu nome à vila de São Manços.
Fonte: PATRÍCIA MAXIMINO, São Manços: da lenda à realidade arqueológica CENÁCULO in http://museudevora.imc-ip.pt/Data/Documents/Cenaculo%204/B4manços2010.pdf
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