Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva (Praia da Vitória, 19/12/1901 — Lisboa, 20/2/1978) foi um poeta, romancista, cronista, académico e intelectual açoriano que se destacou como autor de Mau Tempo no Canal, e professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.´
Vitorino Nemésio foi ficcionista, poeta, cronista, ensaísta,
biógrafo, historiador da literatura e da cultura, jornalista,
investigador, epistológrafo, filólogo e comunicador televisivo, para
além de toda a actividade de docência. O seu nome consta da lista de
colaboradores da Revista dos Centenários publicada por ocasião da Exposição do Mundo Português e nas revistas, Panorama (1941-1949) Conímbriga de 1923, Renovação (1925-1926), Atlântico e Litoral (1944-1945).
Levou a cabo, na sua obra, uma transformação das tendências da Presença
(que de certa forma precedeu), que garantiu a eternidade dos seus
textos. Fortemente marcado pelas raízes insulares, a vida açoriana e as
recordações da sua infância percorrem a obra do escritor, numa espécie
de apelo, revelado pela ternura da sua inspiração popular, pela presença
das coisas simples e das gentes, e pela profunda humanidade face à
existência e ao sofrimento da vida humana.
O conceito de "açorianidade" foi definido por Nemésio em 1932
e, desde então, foi amplamente divulgado em contextos bem
diferenciados, desde estudos de âmbito literário a intervenções de ordem
política. Naquele ano, por ocasião do V Centenário do Descobrimento dos
Açores, afirmou:
- "(...) Quisera poder enfeixar nesta página emotiva o essencial da minha consciência de ilhéu. Em primeiro lugar o apego à terra, este amor elementar que não conhece razões, mas impulsos; e logo o sentimento de uma herança étnica que se relaciona intimamente com a grandeza do mar.
- Um espírito nada tradicionalista, mas humaníssimo nas suas contradições, com um temperamento e uma forma literária cépticos, - o basco Baroja, - escreveu um livro chamado Juventud, Egolatria 'O ter nascido junto do mar agrada-me, parece-me como um augúrio de liberdade e de câmbio'. Escreveu a verdade. E muito mais quando se nasce mais do que junto do mar, no próprio seio e infinitude do mar, como as medusas e os peixes (...)
- Uma espécie de embriaguez do isolamento impregna a alma e os actos de todo o ilhéu, estrutura-lhe o espírito e procura uma fórmula quási religiosa de convívio com quem não teve a fortuna de nascer, como o logos, na água (...)
- (...) Meio milénio de existência sobre tufos vulcânicos, por baixo de nuvens que são asas e bicharocos que são nuvens, é já uma carga respeitável de tempo (...) Como homens, estamos soldados historicamente ao povo de onde viemos e enraizados pelo habitat a uns montes de lava que soltam da própria entranha uma substância que nos penetra. A geografia, para nós, vale outro tanto como a história, e não é debalde que as nossas recordações escritas inserem uns cinquenta por cento de relatos de sismos e enchentes. Como as sereias temos uma dupla natureza: somos de carne e pedra. Os nossos ossos mergulham no mar.
- Um dia, se me puder fechar nas minhas quatro paredes da Terceira, sem obrigações para com o mundo e com a vida civil já cumprida, tentarei um ensaio sobre a minha açorianidade subjacente que o desterro afina e exacerba."
Na minha visita à Praia da Vitória, na Ilha Terceira, descobri por acaso o seu local de nascimento. Lamento não ter tido tempo para visitar o interior, mas essa é uma boa desculpa para voltar aos Açores.
Fonte: Wikipédia
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