segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Os amigos

Vamos vendo os amigos cada vez mais longe,

muitas vezes de costas,

a sacudir o espaço dos seus tempos como se entrassem

no mundo pela primeira vez.


São pequenas formações quase desumanas

que às vezes se reconhecem

disformes quase sempre sós e aos pés oculto de todos

corre um rio.


Um rio que vai confundido a vida

e a memória.

Que percorre os lugares do júbilo como uma água

aflita e sem regresso.


Quando o olho por dentro no começo da tarde

os amigos cintilam como corpos estranhos

entre os nossos desastres bebemos o anoitecer

e adormeceríamos juntos de soubéssemos. 


CARVALHO, Armando Silva, O País das minhas vísceras, s.l., Língua Morta, 2021, p450

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