Queres? (No ar, a interrogação vibra como
uma onda invisível.)
Queres? (Pelo silêncio, não sei quem és, não
sei a razão em mim que te deseja.)
Queres? ( É quase de manhã e poderíamos
esquecer tudo, fazer as malas, dormir
finalmente.)
Queres? (Uma porta talvez aberta para talvez
um abismo ou um deus.)
Quero. (Já não podemos fugir aos nossos olhos
inimagináveis, inalcançável é o cansaço.)
Quero. (A luz do quarto continua acesa sobre
a luz da manhã, tornamo-nos artificiais.)
Quero. (Os nossos corpos, claro, sempre os
nossos corpos, sempre apenas os nossos únicos
corpos.)
Quero. (Tarde demais.)
PEIXOTO, José Luís, Gaveta de papéis, 2.ª edição, Quetzal, 2011, p. 57.
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