sexta-feira, 21 de julho de 2023

Soneto

... quando apenas fores música da vida,

procura-me encantada e sorridente.

As mansas as nuvens passam sobre a gente,

e basta não olhá-las! Quanta ida,


neste arvoredo, que no veneno olvida,

como jamais eu próprio, a repetida

e teneberosa astúcia do poente!

Morrem as eras, no que a se não sente.


Assim eu te ouça,e tenha confiança,

nas outras mortes que me abandonarem.

Assim tu me procures, qual criança

pé ante pé, enquanto a não fitarem.


_ que rendida,virá mais vida imensa,

como vem sempre que um murmúrio vença.


SENA, Jorge de, Coroa da Terra, Lisboa, Assírio e Alvim, 2021, p. 100. 

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