Aflito coração, que o teu tormento,
Que os teus desejos, tácito, devoras,
E ao doce objecto, às perfeições que adoras,
Só te vás explicar com o pensamento:
Infeliz coração, recobra alento,
Seca as inúteis lágrimas que choras!
Tu cevas o teu mal, porque demoras
Os voos ao ditoso atrevimento.
Inflamas surdos ais, que o medo esfria:
Um bem tão suspirado e tão subido.
Como se há de ganhar sem ousadia?
Ao vencedor afoite-se o vencido:
Longe o respeito, longe a cobardia.
Morres de frio? Morres de atrevido.
BOCAGE - sonetos completos de Bocage, Lisboa, Círculo de Leitores, 1983, p. 15
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