João Sem Medo abanou a cabeça, discordante. E preparou-se para abandonar os dois bichos na sua luta pela igualdade. Mas à laia de despedida foi-lhes dizendo com tacto hábil de pessoa bem educada:
- Considero a vossa atitude muito louvável, embora confesso, o método me pareça um pouco... como direi... Bem... talvez primário...
- Porquê? - Bramiu mestre Boi sempre a babar-se de estupidez suave.
Como resposta, João Sem Medo começou a meter os pés pelas mãos numa tentativa de atinar com as palavras justas para exprimir o seu pensamento um pouco tataranha:
- Bem... Porque... Ou me engano muito ou... Bem... não devemos confundir igualdade com identidade... baralhada muito comum, aliás... Do ponto de vista exterior vocês serão sempre desiguais.
E bem fincado ao fio do raciocínio, para não se perder:
- Imaginem, por exemplo, que a Senhora Rã, alcançado o tamanho do mestre Boi, lhe invejava os chifres. (...)
Façam os esforços que fizerem, haverá sempre desigualdades externas entre ambos... que, a bem dizer, não constituem propriamente desigualdades, mas diferenças.
FERREIRA, José Gomes, Aventuras de João Sem Medo - panfleto mágico em forma de romance, 15.a edição, Lisboa, Morais Editora, pp.134-135.
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