A memória é "social" e "colectiva" por várias razões e de diversos modos. Primeiro, a memória colectiva é "muito diferente da soma das recordações pessoais dos seus vários membros individuais, uma vez que inclui apenas aquelas que são partilhadas por todos" (Zerubavel, 1999, 96). Segundo, é social porque "é a sociedade que assegura o que recordamos e como e quando o recordamos" (Mistzal 2003, 11) e determina quais os acontecimentos que são considerados "memóriaveis" e quais os "esqueciveis". Terceiro, a memória é social porqueo recordar "não se realiza num vácuo": "existe através das suas relações com o que foi partilhado com outros: língua, símbolos, acontecimentos e contextos sociais e culturais" (Misztal 2003, 11-12). Quarto, a memória é social porque requer transmissão, articulação e acções cooperativas. A memória "só pode ser social se é passível de ser transmitida e, para ser transmitida, uma memória deve primeiro ser articulada" (Fentress e Wickham 1992, 47). A memória social é "interativa, promovida por artefactos e sinais utilizados com fins sociais e até realizada por actividade cooperativa" (Schudson 1997).
...
A memória individual "encavalita-se na prática social e cultural da memória" e a memória colectiva combina o que recordamos de facto e um "passado construído que é constitutivo da colectividade " (Schudson 1995, 347).
PINTO, António Costa (Org.), A Sombra das ditaduras - a Europa do Sul em comparação, Lisboa, ICS, 2013, p. 45.
Sem comentários:
Enviar um comentário