quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Não desembarcar



Não desembarcar não tem cais onde se desembarque. Nunca chegar 
Há poesia em tudo - na terra e no mar, nos lagos e nas margens do rio. Há-a também na cidade - não o neguemos - facto evidente para mim enquanto estou aqui sentado: há poesia na trepidação dos carros nas ruas, em cada movimento ínfimo, vulgar, ridículo, de um operário que, do outro lado da rua, pinta a tabuleta de um talho.

PESSOA, Fernando, Tenho medo de partir - um livro de viagens, Lisboa, Guerra e Paz, 2018, p. 11.



Sem comentários: