O tempo seca a beleza,
Seca o amor, seca as palavras.
Deixa tudo solto, leve,
Desunido para sempre
Como as areias nas águas.
O tempo seca a saudade,
Seca as lembranças e as lágrimas.
Deixa algum retrato, apenas,
Vagando seco e vazio
Como estas conchas das praias.
O tempo seca o desejo
E as suas velhas batalhas.
Seca o frágil arabesco,
Vestígio do musgo humano,
Na densa turfa mortuária.
Esperarei pelo tempo
Com suas conquistas áridas.
Esperarei que te seque,
Não na terra, Amor Perfeito,
Num tempo depois das almas.
Meireles, Cecília, Antologia Poética, 3.a edição, Rio de Janeiro, Relógio d' Águas Editores, p. 120.
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