Dizem que as fotografias não mentem, mas essa é a maior mentira que já
ouvi. (…) Nisso, quando guardam para sempre um instante que nunca se repetirá,
as fotografias não mentem – esse instante existiu mesmo. Porém, a mentira
consiste em pensar que esse instante é eterno, que dois amantes felizes e
abraçados numa fotografia ficaram para sempre felizes e abraçados. É por isso
que não gosto de olhar para fotografias antigas: se alguma coisa elas reflectem,
não é a felicidade, mas sim a traição – quando mais não seja, a traição do
tempo, a traição daquele mesmo instante em que ali ficámos aprisionados no
tempo.
TAVARES, Miguel Sousa, No teu deserto – Quase romance, Alfragide, Oficina
do Livro,2009. p. 15.
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