É, na nossa vida,
completamente desnecessário ter qualquer proximidade com o mar, mas a sua
simples visão provoca alterações profundas na alma. Creio que, tal como o
resultado de uma soma é uma evidência para a razão, a presença do mar é uma
evidência para os sentimentos. Nada é estanque na natureza, por isso não é só o
delicado equilíbrio entre os sais de sódio e de potássio que se altera
radicalmente, modificando a composição do corpo, dos ossos, do sangue, é também
a alma que fica salgada, ondulada, habitada por tubarões, algas, sargos,
polvos, ostras e cachalotes.
CRUZ, Afonso, Excerto de O ouvido do conde de Chesterfield, Enciclopédia da Estória Universal – Mar, Lisboa, Alfragide, 2014.
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