Serra da Lousã
Aqui e além elevados castanheiros, frondosos caravalhos ou oliveiras verde pálido formavam pequenos bosques em volta de uma ou de outra habitação isolada, como para ocultar o mistério de alguma existência obscura que se deslizasse ali e concentrar no seio da família o grato calor dos lares domésticos que alimenta e vigora os mais afectuosos sentimentos do coração humano.
Cada uma desta habitações solitárias, assim envolvidas na sombra dos olivais, dos soutos ou das devessas, assim recatadas e discretas, como aquelas pessoas naturalmente pouco expansivas que se calam com as suas alegrias e experimentam gozá-las em silêncio na mais casta voluptusidade, me parecia encerrar um poema inteiro de íntimas felicidades. A cada uma delas asscoava a minha imaginação, obedecendo a não sei que irressistível necessidade de fantasiar uma vida de tranquilos e inefáveis prazeres, cuja só concepção me deleitava.
DINIS, Júlio, Os novelos da Tia Filomela, O Espólio do Senhor Cripriano, Lisboa, Editorial Verbo,1971 (?) , p. 96.
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