sábado, 29 de maio de 2021

O líder de uma nação

Tal como o indivíduo colhe aquilo que semeou, o mesmo sucede com a nação, que é uma comunidade de indivíduos. As nações tornam-se grandiosas quando dos seus líderes são homens justos; caem e desaparecem quando os seus justos morrem. Aqueles que estão no poder dão um exemplo, bom ou mau, a toda a nação.  

ALLEN, James, Tu és o mestre do teu destino, s.l., Alma dos Livros, 2020, p. 18.

sexta-feira, 28 de maio de 2021

Cor de burro quando foge

... esta expressão idiomática significa algo que tem uma aparência indeterminada, ou vaga, ou sombria, sugerindo talvez uma realidade fugidia. Seja lá o que for parece-me apropriado.

GWYN, Richard, Cor de burro quando foge, Lisboa, Quetzal Editores, 2007, p. 13.

quarta-feira, 26 de maio de 2021

O que é um escritor?

Um escritor é uma pessoa comum. Vai muito pouca distância entre quem escreve e publica livros e as pessoas que o não fazem. Os mesmos sonhos, os mesmos desejos, as mesmas dúvidas, a conquista de algumas certezas, como a Terra ser quase redonda, a Lua andar à volta da Terra, os cães poderem ser fiéis até à morte aos seus donos, e outras têm pudor em falar das realidades impalpáveis, desejos impróprios, medos arrasadores que provêm dos sonhos da noite e habitam as madrugadas.

JORGE, Lídia, Em todos os sentidos, Alfragide, 2.ª edição, Publicações D. Quixote, 2020, p 231.

sábado, 22 de maio de 2021

Maldade vs Bondade

  - A maldade é mais natural nos homens do que a bondade - … a bondade exige um grande esforço do espírito. Somos maus pela mesma razão que as pedras não caem para cima, quando as soltamos, perdendo-se no céu. Somos maus por indolência.

AGUALUSA, José Eduardo, A Rainha Ginga e de como os africanos inventaram o mundo, Lisboa, Quetzal, 2018, p 146.

quinta-feira, 20 de maio de 2021

O poder da paciência

A paciência é a capacidade de aceitar, tolerar e respeitar dificuldades, aborrecimentos, imprevistos, atrasos e expectativas não correspondidas, sem ficarmos chateados, impacientes ou zangados. Mais do que um comportamento passivo, a paciência é uma manifestação de aceitação pelo momento presente, sem a necessidade de mudar aquilo que já não dá para ser alterado. Daí fazer parte de uma manifestação de poder, uma vez que todos nós, de alguma forma, queremos muitas vezes mudar o que não controlamos, o que não depende de nós e o que já aconteceu.

Percebemos que aqueles que conseguiram gerir melhor a conjuntura pela qual passámos, e ainda estamos a passar, ultrapassaram o momento em si e criaram recursos internos e externos para melhor lidarem com a situação, porque são pessoas pacientes. De facto, ter paciência é ter inteligência emocional e estar focado apenas naquilo que depende do próprio, vivendo num registo de aceitação em relação a tudo aquilo que vive fora de si. Nos tempos que vivemos, em que tudo é rápido e tudo é para ontem, parece ser quase impossível ser paciente e estimular a paciência. Na realidade, a paciência é uma forma de liberdade para assistir, observar e aceitar aquilo que se encontra a acontecer no momento presente. A paciência sabe quando agir e percebe que a precipitação e a impulsividade não trazem grandes frutos. Daí que a paciência signifique poder, e não passividade, inércia ou resignação. Na verdade, a paciência nada tem que ver com não fazer nada, mas antes com o saber quando fazer. A paciência é uma manifestação de compaixão, na medida em que é uma forma de resiliência para lidar com as frustrações diárias. A paciência centra-nos e faz-nos pensar onde gastamos a energia e para quê, porque, quando estamos impacientes, irritados e zangados, estamos no fundo a gastar “rios de energia” que são precisos para outros momentos, tarefas e decisões. É por isso que a paciência chama a si o acto de contemplar, que é o antídoto da frustração em si. A frustração é um estado de desassossego interior que desencadeia intolerância, algum tipo de agressividade, agitação e incompreensão pelo adiamento de uma não-gratificação imediata. No fundo, é uma manifestação ao “quero agora” e ao imediato não concretizado.

GASPAR, Diana, E depois da Covid-19, Queluz de Baixo, Manuscrito, 2020, pp. 112-113

domingo, 16 de maio de 2021

E o mar sempre lá

Hortense
Ericeira

Não és tu a minha estação ó verão instalado
Afastamos com água das árvores o outono
 (...)
Iremos até onde as folhas caem
é possível que o outono seja lá
Que bem estamos em nós nem outrem nos sonhamos
 são impossíveis qualquer passado ou futuro
(...)
E o mar sempre lá
no lugar onde está

BELO, Ruy, Na Margem da alegria - poemas escolhidos por Manuel Gusmão,  Assírio e Alvim, 2011, p. 30-31

sexta-feira, 14 de maio de 2021

O medo que o covid nos trouxe

O medo reinou, e ainda reina, na memória e na história de cada um de nós. Se foi ele que nos retirou da rua e nos colocou protegidos em casa, é também ele que pode estar a impedir-nos de ganhar confiança na vida, nos outros, em nós e no processo de recuperação pessoal, familiar, profissional e de uma nação. Em excesso, o medo não protege, mas bloqueia: o corpo, o pensamento e os processos de mudança. Quando sentimos medo, entramos em modo de sobrevivência e deixamos de construir alternativa para os vários desafios que estamos a viver.

GASPAR, Diana, E depois da Covid-19, Queluz de Baixo, Manuscrito, 2020, p 29.

Tapete de papoilas

A Primavera no seu esplendor na cidade de Évora

quinta-feira, 13 de maio de 2021

A bola

A bola transforma-se então na mais apropriada figuração do gozo: sempre em trânsito e, em definitivo, sempre inalcançável. Só por quase milagre se possui fugazmente para logo no instante seguinte se perder, porque o jogo continua sempre e nunca pára.

GERSÃO, Teolinda, Prantos, amores e outros desvarios, Lisboa, Porto Editora, 2016, p 53

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Wuang Shi

 Faço hoje mais um ano. Nem sei já  quantos.

Tenho uma idade estúpida, que para nada serve.

Não há motivos de júbilo. Tão-pouco de tristeza.

Perdoai o incómodo e a cinza

destas palavras, desta velha voz.

Bebamos simplesmente e em silêncio,

tentando esquecer que estamos mortos.

 

PIQUERAS, Juan Vicente, Instruções para atravessar o deserto - poemas escolhidos, Porto, Assírio & Alvim, 2019, pp 35-37.