A paciência é a capacidade de aceitar, tolerar e respeitar dificuldades,
aborrecimentos, imprevistos, atrasos e expectativas não correspondidas, sem
ficarmos chateados, impacientes ou zangados. Mais do que um comportamento
passivo, a paciência é uma manifestação de aceitação pelo momento presente, sem
a necessidade de mudar aquilo que já não dá para ser alterado. Daí fazer parte
de uma manifestação de poder, uma vez que todos nós, de alguma forma, queremos
muitas vezes mudar o que não controlamos, o que não depende de nós e o que já
aconteceu.
Percebemos que aqueles que conseguiram gerir melhor a conjuntura pela qual
passámos, e ainda estamos a passar, ultrapassaram o momento em si e criaram
recursos internos e externos para melhor lidarem com a situação, porque são pessoas
pacientes. De facto, ter paciência é ter inteligência emocional e estar focado
apenas naquilo que depende do próprio, vivendo num registo de aceitação em
relação a tudo aquilo que vive fora de si. Nos tempos que vivemos, em que tudo
é rápido e tudo é para ontem, parece ser quase impossível ser paciente e
estimular a paciência. Na realidade, a paciência é uma forma de liberdade para
assistir, observar e aceitar aquilo que se encontra a acontecer no momento
presente. A paciência sabe quando agir e percebe que a precipitação e a
impulsividade não trazem grandes frutos. Daí que a paciência signifique poder,
e não passividade, inércia ou resignação. Na verdade, a paciência nada tem que
ver com não fazer nada, mas antes com o saber quando fazer. A paciência é uma
manifestação de compaixão, na medida em que é uma forma de resiliência para
lidar com as frustrações diárias. A paciência centra-nos e faz-nos pensar onde
gastamos a energia e para quê, porque, quando estamos impacientes, irritados e
zangados, estamos no fundo a gastar “rios de energia” que são precisos para
outros momentos, tarefas e decisões. É por isso que a paciência chama a si o
acto de contemplar, que é o antídoto da frustração em si. A frustração é um
estado de desassossego interior que desencadeia intolerância, algum tipo de
agressividade, agitação e incompreensão pelo adiamento de uma não-gratificação
imediata. No fundo, é uma manifestação ao “quero agora” e ao imediato não concretizado.
GASPAR, Diana, E depois da Covid-19, Queluz de Baixo, Manuscrito, 2020, pp. 112-113