que, num dia, sobem e descem com a maré,
e mudam de cor consoante o céu vai mudando.
Posso dizer, então, que as coisas também
mudam, para lá do que nós queremos,
e obedecem a uma vontade que nos ultrapassa:
a força do vento ou a calmaria que tudo abranda,
a disposição das nuvens, cobrindo ou deixando
ver o azul, o modo como a noite surge, quando
a não esperamos, ou a demora da tarde quando
o sol insistem em não cair. E também o instante
em que tudo depende de uma ou outra das palavras
que dizemos, da forma como as dizemos, ou
simplesmente da entoação da voz que se
confunde com esse murmúrio de ramos
nos arbustos, com a espuma que se dissipa no ar,
com um vago bater de asas no céu da memória.
E é como se o tempo não passasse mais, a hora
se transformasse em eternidade e o sol se
demorasse na praia do teu corpo." P
JÚDICE, Nuno, ENTOAÇÃO, Regresso a um cenário campestre, Lisboa, D. Quixote, 2020, p 93.
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