São sete da manhã. Acordei há mais de uma hora.
Os pássaros saúdam a aproximação do Verão.
Ao longe o ruído surdo do trânsito, a manhã que sacode a preguiça
Pondero o que fiz para merecer isto: ter nascido, ter escapado aos
mobros da infância,
ao desamparo da adolescência e (até agora) aos venenos que me
sustentam,
aos demónios que me cuidam.
Sem culpa do pecado original, não é a morte que espero (essa virá)
é tentar entender o que fiz (ou não fiz) para merecer isto.
Nostalgia? - tento acreditar que o que se ignora acontece e o que
se sabe está perdido;
claro que, não sendo esta prosa confesssional e tendo perdido o empenho de ficar louco,
não consigo.
OLIVEIRA, José Alberto, Rectificação da linha geral, Porto, Assírio e Alvim, 2020, p. 62.
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