Rua da Oliveira, Évora |
Na noite calada e quieta como um grande segredo,
andando ao deus-dará nestas ruas desertas,
saio lá do fundo do meu sonho
e olho ao redor de mim.
Cá fora há tudo o que não é do meu sonho:
o frio, e os altos prédios fechados,
e as ruas mortas como paisagens de cemitérios.
E a claridade fugidia dos candeeiros cansados,
como pálpebras que se vão fechar.
E o torpor saindo de todas as coisas
e pairando no ar, como um desmaio iminente...
Só eu tenho ainda passos para andar
e uma não sei que ternura
para todos que estão, para lá das paredes,
adormecidos e descuidados
à morte que espreita escondida no mistério [da noite...
FONSECA, Manuel, Obra poética, Alfragide, Caminho 11.ª ed., 2011, p.103
Sem comentários:
Enviar um comentário