domingo, 19 de fevereiro de 2023

Calo-me

Calo-me quando escrevo

assim as palavras falam mais alto e mais baixo.

Nada no poema é impossível e tudo é possível

Mas não arranjo maneira de entrar no poema

e de sair de mim    e por isso a minha voz é profunda e rouca

e por isso me calo (e como me calarei?)

No entanto ninguém é tão falador como eu

Nem há palavras que não cheguem para não dizer nada.


E vós também: não me faleis de nada ou fala-me.

Porque não sabeis o que dizeis.


PINA, Manuel António, Todas as palavras - poesia reunida, Porto, Assírio e Alvim, 2012, p. 14.

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