O amor é um pássaro que voa
ao vento do acaso. Vai sozinho,
e quando encontra uma nuvem logo
se perde, sem saber como sair
de dentro dela. Vê o azul, mas prefere
o temporal. Entra nos bosques que
lhe são proibidos, e foge da luz
para se refugiar na sombra. É daí
que vem o seu canto. Não o vemos
mas as suas asas batem à nossa
volta, e seguimos para onde nos
leva, sem perguntarmos porquê. E porque
o amor é leve como folha de outono,
é pesado como o seu destino, é
ágil como o seu voo, não deixa
que o fechem numa gaiola e
ao ver-se perseguido, é ele
quem captura o caçador
com a seta que fere,
mas não mata.
JÚDICE, Nuno, Alegoria amorosa, Regresso a um cenário campestre, Lisboa, D. Quixote, 2020, p. 82
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