(...) O amor foi purificado, como nunca o foi antes. O amor foi transformado para ser apenas amor e nada mais do que amor.
- Como perguntou Rudyard.
- Pelo farmacêutico - respondeu Edmund -, pela venda de contraceptivos.
(...)
- O contraceptivo - continou Edmund - purificou o amor ao libertá-lo do acidente dos filhos. Agora toda a gente com juízo pode descobrir quem ama relamente. Os filhos podem ser seres escolhidos e não o resultado de luxúria impetuosa ou apetite impaciente. Agora o amor é o amor e nada mais senão amor!
- Sim - disse Rudyard -, uma mera invenção material transformou completamente as relações entre os homens e as mulheres: uma mera coisa material!
- Por outro lado - disse Francis French -, também torna possível o adultério e a promiscuidade, não que eu tenha alguma coisa contra a promiscuidade.
(....)
- Sim, disse Jacob-, torna tudo demasiado fácil, o que é sempre uma boa razão pra suspeita e dúvida. O amor é mais difícil do que qualquer outra coisa. O amor é o vencedor sinistro que ninguém suplanta pela astúcia.
- Exactamnete - disse Edmund - esta engenhoca, tão pequena e barata, assegura a vitória do amor. O amor não pode ser evitado, não pode ser posto de lado, nenhuns pensamentos de utilidade ou vergonha podem interferir.
- Não há nada de verdade nisso - disse Laura - continuas a precisar de encontrar alguém a quem amar e que te ame.
Jacob, um pouco à parte, viu que sobre este assunto a opinião era absoluta e a especulação infinita precisamente porque eles estavam tão longe da realidade do amor.
- Que longe é amar? - perguntou a si próprio. Ama o vencedor sinistro a que ninguém escapa.
SCHWARTZ, Delmore, Nos sonhos começam as responsabilidades, Lisboa, Guerra e Paz, 2020, pp. 101-102
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