quinta-feira, 4 de maio de 2023

Sempre sós






As árvores crescem sós. E a sós florescem.


Começam por ser nada. Pouco a pouco

se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.


Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,

e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.


Depois, por entre as folhas, vão-se esmorçando as flores,

e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,

 e os frutos dão sementes,

e as sementes preparam novas árvores.


E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.

Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.

Sós.

De dia e de noite.

Sempre sós.



GEDEÃO, António, Poemas - Uma antologia bilingue, Lisboa, Palavrão - Associação Cultural, 2015, p. 180.

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