Queiramos ou não
Só temos três alternativas:
O ontem, o hoje e o amanhã.
E nem sequer três
Pois como diz o filósofo
O ontem é ontem
Pertence-nos só na memória:
À rosa que já se desfolhou
Não se pode tirar outra pétala.
As cartas por jogar
São apenas duas:
O hoje e o dia de amanhã.
E nem sequer duas
Porque é um facto bem sabido
Que o presente não existe
A não ser na medida em que se faz passado
E já passou...
como juventude.
Em resumidas contas
Só nos vai restando o amanhã:
Eu levanto o meu copo
Por esse dia que nunca chega
Mas que é o único
De que realmente dispomos.
PARRA, Nicanor, Acho que vou morrer de poesia, Língua Morta, 2019, pp. 63-64.
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