Quando tudo é claro ao meu redor
como aquela luz (onde a vi?)
do princípio e do ardor do mundo
e estão presentes com seus aromas
a terra a mulher e o mar
e as garras de seda do desejo
lembro-me António dos poemas
que nos leste ora ao sol ora
ao abrigo de uma rocha
ou animal mitológico
Sob o vasto céu do verão
ouvíamos-te Nem uma abelha
nenhum zumbido Mas se desse
espaço sagrado nos afastássemos
um metro o sol abraçava-nos e a labareda
ardia Havia ali perto uma bilha
com sangria que um turista
enterrara na areia Toda a orla
da praia devastada pela luz
O Casimiro foi buscar água
e eram à sua volta rochas de sol
e diamantes figuras pagãs
de um esquecido culto
Teu olhar sem fundo
sábio e triste por vezes exaltado
inquiria o lume daquela areia
sem fim como se pudesse nela achar
no seu absoluto silêncio
a unidade perdida
de todos os seres vivos e mortos
do tempo em rotação.
RODRIGUES, Urbano Tavares, Poesia - Horas de vidro, Alfragide, Publicações D. Quixote, 2010, pp. 59-60.
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