quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Apresto-me aos feitiços e abro os lençóis ao luar

Apresto-me aos feitiços e abro os  lençóis ao luar.

No ermo a voz sem termo de Hécata a chamar.

Suas tochas na noite são um incêndio ao fundo

A arder na matriz dos mistérios do mundo.

 (....)

Algures nessa vertigem vim virgem de outras eras

Ser violada ao luar num festim de pantera.

Vida! de quantas vidas tiras o mel e e o limo

Acomodando inúmeras almas a um só destino.


Venho, mas porque venho não sei. Qual o endereço?

principiei no fim para acabar no começo?

Indago-me no nexo das rosas. Mortas? Vivas?

Na fleuma do eterno trocam-se as perspetivas.


Doidamente me isola um astro desconexo,

Ou será toda minha a insânia do universo?

À mercê da potência que move o ir  voltar

Vagueio, Oh, quantos séculos faltam para a mim chegar! (...)


CORREIA, Natália, Antologia poética, Lisboa, D. Quixote, 2013, pp. 276-277.

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