Mudo, por hoje, o uivo feroz, saciada
A fome vil, chegado o vil quebranto,
Na placidez da noite constelada
Recolho, e aqui me encolho e embrulho a um canto.
Já, longe, um frasco alvor de madrugada
Nos diz que mais um dia aí vem! No entanto,
Por enquanto, feliz sem pensar nada,
Todo este mundo inerte é esparso encanto.
Só eu, cá nomeu canto, aqui mergulho
Na minha própria noite , e ouço o marulho
Do meu sangue de há séculos maldito
Talvez porque só eu, como há lembrança,
Fui feito, ó Deus!, à tua semelhança,
De entre todos os mundos do infinito!
RÉGIO, José, Biografia, 6.ª edição, Guimarães, Ópera Omnia,2020, p. 38.
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