A poesia vai
acabar, os poetas
Vão ser colocados
em lugares mais úteis.
Por exemplo,
observadores de pássaros
(enquanto os
pássaros não
acabarem). Esta
certeza tive-a hoje ao
entrar numa
repartição pública.
Um senhor míope
atendia devagar
Ao balcão;
eu perguntei: “Que fez algum
poeta por este
senhor?” E a pergunta
afligiu-me tanto
por dentro e por
fora da cabeça
que tive que voltar a ler
toda a poesia
desde o princípio do mundo.
Uma pergunta numa
cabeça.
- Como uma coroa
de espinhos:
Estão todos a ver
onde o autor quer chegar?
PINA, Manuel
António, A poesia vai, Poesia, saudade da prosa – uma antologia pessoal, Lisboa, 2.ª edição,
Assírio & Alvim,2015,
p. 60.
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