Exactamente como foi, o medo de me enganar
mais tarde na memória - é tudo o que me resta: estar
de noite às escuras a pensar em ti
E se me lembro mal, se troco as vezes, naquela
quinta-feira o dia do amor em vez de ser
na quarta, o erro surge-me gigante,
um peso carregado como Atlas
Por isso é que preciso de lembrar coisas
exactas, como aconteceu tudo; não só
transpor depois na ficção recolhida, sou eu
que te preciso e dos teus dias
que me foram meus
Lembrar-me exactamente como foi, o que usei
nesse dia e o que usei no outro, até que horas
tudo, se havia gente ou não
e em que dia. Porque as palavras depois se
reconstroem
O que se disse então torna-se fácil.
Assim dito parece coisa pouca,
lugar comum e
fácil, mas as noites são grandes
e lembrar-te
exactamente,
de uma forma correcta
é-me tão importante
dentro das noites a pensar em ti
sabendo: não te vejo nunca mais.
Dedico-te este poema P, há um mês que te conheci, numa quinta-feira de lua cheia.
AMARAL, Ana Luísa, Imagias, Gótica, Viseu, 2002, pp. 7 e 8.
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