- O império soviético caiu porque já não era capaz de domar as nações que queriam ser soberanas. Mas estas nações são hoje menos soberanas que nunca. Não podem escolher nem a própria economia, nem a sua política externa, e nem sequer os slogans da sua publicidade.
- A soberania nacional é desde há muito um ilusão - disse N.
- Mas se um país não é independente e nem sequer deseja sê-lo, haverá ainda alguém disposto a morrer por ele?
- Não quero que os meus filhos estejam dispostos a morrer.
- Então eu digo de outra maneira: haverá ainda alguém que ame este país?
N. afrouxou o passo: "Josef", disse ele tocado. "Como pudeste tu emigrar? És um patriota!". Depois, muito sério: - Morrer pelo país é uma coisa que já não existe. Talvez para ti, durante o tempo da tua emigração, o tempo tenha parado. Mas eles já não pensam como tu.
KUNDERA, Milan, A Ignorância, Porto, Edições Asa, 2001, p. 134
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