sábado, 1 de outubro de 2022

Pensar não me conduz a nada

 Andar contigo como quem vai sem ir

Como quem está sem estar

O meu corpo sentado no teu movimento


Já sou onde estive já estou

Onde vou por ti

Sem andar, correr, sou quem está a ir.


Vejo o perto com o longe na cabeça. Em ti

Não há perda possível

O desastre é a utopia móvel.


Todo o desejo é por si só fantasma

Os vidros sobem na catedral minúscula

E os arcos de ar envolvem de sagrado o negro do meu rosto.


Parado salto de pensamento para pensamento

Com as mãos atadas à vista

O sexo não me ofende a viagem.


Pensar não me conduz a nada

Só tu

És branco por fora e escuro no meu transporte.

(...)


CARVALHO, Armando Silva, O País das minhas vísceras, s.-l., Língua Morta, 2021, p. 361

Sem comentários: