sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Partida

Como uma flor incerta entre os teus dedos

Há harmonia de um bailar sem fim,

E tens o silêncio indizível dum jardim

Invadido de luar e de segredos.

 

Nas tuas mãos trazias o meu mundo.

Para mim dos teus gestos escorriam

Estrelas infinitas, mar sem fundo

E nos teus olhos os mitos principiam.

 

Em ti eu conheci jardins distantes

E disseste-me a vida dos rochedos

E juntos penetrámos nos segredos

Das vozes dos silêncios dos instantes.

 

Os teus olhos são lagos e são fontes,

E em todo o teu ser existe

O sonho grave, nítido e triste

De uma paisagem de pinhais e montes.

 

Na tua voz as palavras são nocturnas

E todas as coisas graves, grandes, taciturnas

A ti são semelhantes.

 

Poderia ter sido assim P

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, Obra do mar, Caminho, 5.ª edição, 2005, pp. 45-46.

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