Como uma flor incerta entre os teus dedos
Há harmonia de um bailar sem fim,
E tens o silêncio indizível dum jardim
Invadido de luar e de segredos.
Nas tuas mãos trazias o meu mundo.
Para mim dos teus gestos escorriam
Estrelas infinitas, mar sem fundo
E nos teus olhos os mitos principiam.
Em ti eu conheci jardins distantes
E disseste-me a vida dos rochedos
E juntos penetrámos nos segredos
Das vozes dos silêncios dos instantes.
Os teus olhos são lagos e são fontes,
E em todo o teu ser existe
O sonho grave, nítido e triste
De uma paisagem de pinhais e montes.
Na tua voz as palavras são nocturnas
E todas as coisas graves, grandes, taciturnas
A ti são semelhantes.
Poderia ter sido assim P
ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, Obra do mar, Caminho, 5.ª edição, 2005, pp. 45-46.
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