quinta-feira, 6 de abril de 2023

As aldeias

Eu gosto das aldeias sossegadas,

com seu aspecto calmo e pastoril

erguidas nas colinas azuladas,

mais frescas que as manhãs finas de Abril.


Levanta a alma às coisas visionárias

A doce paz das suas eminências,

E apraz-nos, pelas ruas solitárias,

Ver crescer as inúteis florescências


Pelas tardes das eiras, como eu gosto

Sentir a sua vida activa e sã!

Vê-las na luz dolente do sol-posto,

e nas suaves tintas da manhã!


As crianças do campo, ao amorosos

Calor do dia, folgam seminuas;

E exala-se um sabor misterioso

Da agreste solidão das suas ruas....


Alegram as paisagens as crianças,

Mais cheias de murmúrios do que um ninho,

E elevam-nos às coisas simples, mansas,

Ao fundo, as brancas velas dum moinho.

(...)



 Gomes Leal in QUENTAL Antero de, Tesouro poético da Infância (Antologia), Lisboa, D. Quixote, 2003, p.74.

Sem comentários: