Eu gosto das aldeias sossegadas,
com seu aspecto calmo e pastoril
erguidas nas colinas azuladas,
mais frescas que as manhãs finas de Abril.
Levanta a alma às coisas visionárias
A doce paz das suas eminências,
E apraz-nos, pelas ruas solitárias,
Ver crescer as inúteis florescências
Pelas tardes das eiras, como eu gosto
Sentir a sua vida activa e sã!
Vê-las na luz dolente do sol-posto,
e nas suaves tintas da manhã!
As crianças do campo, ao amorosos
Calor do dia, folgam seminuas;
E exala-se um sabor misterioso
Da agreste solidão das suas ruas....
Alegram as paisagens as crianças,
Mais cheias de murmúrios do que um ninho,
E elevam-nos às coisas simples, mansas,
Ao fundo, as brancas velas dum moinho.
(...)
Gomes Leal in QUENTAL Antero de, Tesouro poético da Infância (Antologia), Lisboa, D. Quixote, 2003, p.74.
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