sábado, 15 de abril de 2023

Explicação do país de Abril

País de Abril é o sítio do poema.

Não fica nos terraços da saudade

não fica em longes terras. Fica exactamente aqui

tão perto que parece longe.


Tem pinheiros e mar tem rios

tem muita gente e muita solidão

dias de festa que são dias tristes às avessas

é rua e sonho é dolorosa intimidade.


Não procurem nos livros que não vem nos livros

País de Abril fica no ventre das manhãs

fica na mágoa de o sabermos tão presente

que nos torna doentes sua ausência.


País de Abril é muito mais que pura geografia

é muito mais que estradas pontes monumentos

viaja-se por dentro e tem caminhos como veias

- os carris infinitos dos comboios da vida.


País de Abril é uma saudade de vindima

é terra e sonho e melodia de ser terra e sonho

território de fruta no pomar das veias

onde operários erguem as cidades do poema.


Não procurem na História que não vem na História.

País de Abril fica no sol interior das uvas

fica à distância de um só gesto os ventos dizem

que basta apenas estender a mão.


Mais aprende que o mundo é do tamanho

que os homens queiram que o mundo tenha:

o tamanho que os ventos dão aos homens

quando sopram à noite no País de Abril


ALEGRE, Manuel, Praça da Canção, Lisboa, 5.ª edição, D, Quixote, 2015, pp. 68-69.

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